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Posts Tagged ‘Olhar’

Peço perdão pelo atraso para postar a continuação da história. Tive que estudar durante esses dias, e por isso não pude atualizar o blog. Mas a continuação está pronta, e a espera, acabada.

Espero que gostem 🙂

Introdução

Quando uma borboleta levantou vôo naquela manhã para pegar um pouco de pólen, jamais imaginaria o que lhe aconteceria por volta das 17:30 da tarde. Suas asas vermelhas eram de tamanho mediano, e batiam suavemente no ar, fazendo-a se deslocar pela atmosfera.

Voava calmamente pela rua, sob o Sol quentíssimo que quase a fazia derreter, mas mesmo assim voava. Um carro passou bem perto dela, fazendo-a ser movimentada quase que violentamente pelo ar. Recompondo-se, pôs-se a voar para o fim da rua, onde havia um beco cheio de flores repletas do melhor pólen da região. Chegando lá, colocou-se sobre uma flor, e começou com seu processo de polinização.

Mas foi então que, em meio àquela calmaria, o ar começou a se agitar. Algumas folhas secas que antes estavam depositadas aos montes nos cantos das paredes do beco, agora voavam em circulo, como um furacão, envolvendo um casal aparentemente apaixonado. O chão começou a ficar rubro, e o vento tornou-se tão forte que ela já não podia mais se segurar na flor.

Foi sugada pelo vento, e tornou-se parte daquele furacão. Movimentava-se descontroladamente, fazendo todos os esforços para sair dali, mas o fez em vão.

Foi então que viu a moça no centro de tudo aquilo: olhos fechados, lindas madeixas loiras, pele de seda e um lábio carnudo que parecia um botão de rosa. Decidiu fazer um esforço. De repente poderia alcançá-la.

Bateu suas asas com todas as forças que tinha; fazia um esforço descomunal em busca de seu objetivo. E foi então, depois de tentar com muito esforço, que chegou ao centro de toda aquela ventania, pousando sobre os cabelos loiros daquela musa, ficando em paz e em segurança.

~

– Feche os olhos novamente, agora. – Disse ele, quando a ventania começou a ficar mais forte.

Ela o obedeceu, e fechou os olhos. A energia estava mais forte agora, e o processo, quase completo.

Quando sentiu sua alma pulsando com toda a energia, abriu os olhos, olhando-a.

Ela estava com seus olhos fechados. Seus lábios estavam mais vermelhos do que nunca, como se tivesse passado um batom fortíssimo, tamanho era o vigor que a dominava naquele momento. Sua pele clara brilhava, como se milhões de sóis nascessem sob sua pele. E um fato curioso chamou sua atenção: em meio a toda aquela ventania, toda aquela energia, uma borboleta havia pousado em seus cabelos loiros. Ela era mesmo uma musa, e tudo indicava isso.

Sorriu de leve e disse a ela que podia abrir os olhos, mas que não soltasse suas mãos.

Mais uma vez ela obedeceu.

– Está pronta?

– Sim, seja lá o que for.

Tudo era dito com uma troca de olhares intensa. E isso era algo importantíssimo, que o fazia ficar cada vez mais apaixonado. Ter aqueles olhos direcionados a ele era como uma bênção.

– Então segure firme em minhas mãos.

Ele sentiu a pressão em suas mãos. Não queria mais demorar, tinha que ir já. Caso contrário era provável que ele não pudesse mostrar a surpresa, ou que algo pudesse acontecer no caminho… E ele realmente não queria imprevisto algum naquele dia. De qualquer maneira, era melhor esquecer isso.

Para a surpresa dela, o chão começou a se soltar de seus pés, se é que vocês me entendem. Para ele aquilo era algo comum, exceto pela diferença de que estava voando com uma acompanhante agora.

Ela abafou um pequeno grito ao perceber o que estava acontecendo, e, arregalando os olhos, olhou para ele com um olhar extremamente expressivo, mas mesmo assim, ele não pôde ler em sua face qual sentimento a dominava naquele momento.

As mãos dela começaram a tremer nas suas, e ele rapidamente apertou o toque, encarando-a, como que dizendo: Tenha calma, você está comigo, e tudo ficará bem. Não deixarei que nada lhe aconteça. Eu prometo.

Um sorriso tomou-lhe a face, deixando-a agora com uma expressão serena. E foi nesse momento, quando ela manteve a calma, que ela sentiu aquela sensação única. A sensação de voar… segurando nas mãos do homem que a amava e a protegia. Do homem que tanto queria seu bem.

O doce toque de mãos, a brisa suave, o Sol de fim de tarde, os olhares apaixonados, o próprio vôo em si. Tudo isso não seria nada se não fosse por ela. Pois ela apareceu em sua vida como o Sol nascente no horizonte dos que estão perdidos na escuridão. E ele agora tentava retribuir, levando-a para um passeio no lugar que julgava ser o mais bonito de todos os que visitou em seus vôos.

Quando chegaram à altitude certa, ele soltou uma de suas mãos e vergou-se no ar, ficando na posição horizontal. Ela também voava, pelo menos enquanto mantivessem suas mãos juntas. Quando ambos colocaram-se na mesma posição, ele começou a voar em direção ao seu destino.

Era tão bom olhar para ela e ver que ela estava adorando o “passeio”. Ela sorria e olhava para todos os cantos, deliciando-se com a nova experiência.

– Não sei por que, mas todo o meu espanto pela novidade sumiu. Só sinto um êxtase maravilhoso por estar voando. – Disse ela, olhando para ele. Seus lindos cabelos voavam para trás por causa do vento. Isso o fez lembrar-se de um quadro pintado por Botticelli, O Nascimento de Vênus, que mostra, obviamente, Vênus no centro do quadro, com seus cabelos esvoaçando-se devido ao sopro de ar de Zéfiro, que a levou à Ilha de Chipre. E isso era uma bela coincidência, e ele sabia bem por que. E, em breve, ela também veria.

– Isso é muito bom. – Respondeu ele, com um sorriso no rosto. – Permita-me dizer que sinto a maior das felicidades por poder voar ao seu lado, segurando sua mão. É ótimo poder ter esse momento com você.

Os dois sorriram. Começaram a subir mais e mais, e ultrapassaram a enorme massa de nuvens. Um enorme objeto à direita chamou a atenção deles. Era um Boeing, um avião comercial com centenas de pessoas.

– Ih… Pelo jeito eu calculei errado a hora de subir… – Disse ele.

– Meu Deus… E agora?

Pouco a pouco as pessoas dentro do avião começavam a perceber o casal voador. Uma criança chamou sua mãe com grande excitação, mas ela estava dormindo. Acordou, mas não deu ouvidos. Ai ai… Essas crianças… Um casal voador?

Alguns flashs começavam a iluminar o interior do avião.

– Apenas acene e sorria.

Olharam para as pessoas lá dentro e simplesmente fizeram isso. Receberam vários acenos de volta.

– Certo… – continuou ele – Agora vamos acelerar um pouco mais. Estou me sentindo um animal em um zoológico. – Arrancou algumas pequenas risadas de sua musa ao dizer isso.

Aceleraram. Conseguiram ficar cada vez mais próximos de seu objetivo.

O mais interessante era olhar para ela e ver que a borboleta ainda estava ali, lutando para se segurar no meio de seus cabelos. Impressionante ver como ela conseguia ficar ali mesmo naquela velocidade.

Resolveram descer, chegar perto do mar, apreciar o imenso azul que os cercava.

Chegaram perto o suficiente para conseguirem tocar a água. Olharam para baixo e viram seus reflexos ali. Sorriram um para o outro. Foi nessa hora que ela percebeu a borboleta em seu cabelo. Levou a mão vagarosamente até lá, procurando não machucá-la.

– Nossa, tem uma borboleta aqui no meu cabelo. – Disse ela com um ar de surpresa.

– Eu vi. Ela estava aí desde quando nós começamos a voar.

– Será porque ela ficou aqui? Quero dizer, por tanto tempo?

– Você é tão linda, transmite uma paz e um amor tão grandes que ela se sentiu em casa. – Disse isso olhando no fundo de seus olhos.

– Você é tão lindo. Adoro as coisas que você diz.

– É tudo reflexo da inspiração que você me traz.

Sorriram. Olharam para o mar e, ao mesmo tempo, tocaram-no, deixando um rastro por onde passavam. A água estava não estava tão gelada; estava fresca, em uma temperatura ideal e refrescante.

Olharam para o horizonte e, onde antes havia a fusão entre mar e céu, agora havia terra.

– Olhe, uma ilha. – disse ela, sorrindo e apontando.

– É para onde vamos. – respondeu ele, também sorrindo.

Esse é o segundo post de três. O próximo será o último. Aguardem 🙂

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RosaIntrodução

O que faz você querer se levantar de manhã?

Ele sabe bem a resposta para essa pergunta. Sabe bem o que o motiva a encarar o frio glacial, retomar a sua jornada extensiva, sentir na pele o cansaço. É a esperança de poder encarar novamente aqueles olhos, ouvir aquela voz, tocar aqueles lábios.

A saudade que mata, agora o persegue e, mais do que isso, o invade sem pedir licença. Abre caminho em suas veias, e chega ao seu coração; à sua mente, não dando descanso um só segundo.

Mas ele sabe – e com felicidade – que essa saudade é reflexo daquilo que existe dentro dele. E como é bom ver o amor tomando conta de uma pessoa. Fazendo aquela pequena semente se tornar uma rosa exuberante, com suas pétalas majestosas e aroma inigualável. É o que faz – pelo menos na opinião dele – o mundo girar, existir.

Movido por esse sentimento ele pensa nela, e isso é como um remédio para ele. As lembranças mais valiosas e capazes de curar qualquer dor estão guardadas como tesouro dentro dele. São lembranças dela. São lembranças deles.

E seria possível pensar em alguém mais? Ah… todos nós sabemos que não. Basta olhar em seus olhos. Os olhos de sonhador que recentemente tomaram conta dele não mentem, mas sim o entregam, mostrando que sua mente está a quilômetros de distância, completamente direcionada àquela pessoa que, embora longe, encontra-se ali, em seu coração.

1

Nesse exato momento ele caminha sob um céu nublado. São onze horas. A avenida movimentada mostra pessoas de todos os tipos. Observa um jovem com seus óculos, ouvindo uma música no volume máximo; uma senhora observando os edifícios; um executivo consultando as horas, correndo para não chegar atrasado ao seu trabalho; um casal na esquina trocando pequenos beijos, dignos de uma pintura, ou uma cena de filme romântico.

Olha para cima e vê que o Sol do dia anterior estava agora escondido atrás de espessas nuvens, carregadas.

Está fazendo seu percurso diário, nada de mais; tudo normal. Mesmos edifícios, mesmas lojas, muitos carros, rostos diferentes. A rotina parece tomar conta das pessoas, de alguma maneira.

Acontece que naquele dia ele sentiu certo impulso de mudar de percurso. Sentiu uma vontade enorme, aliás, uma necessidade de virar a esquina na próxima rua.

E ele o fez.

2

Começou a descer a rua desconhecida com ares de turista. Afinal, nunca esteve por ali.

A rua tinha uma energia diferente, mais calma. Uma brisa leve batia em seu rosto, algumas árvores faziam sombra, e alguns pássaros cantarolavam alegremente. Era bom estar ali. Perguntou-se como nunca estivera ali; como nunca tivera vontade de virar a esquina para sentir aquela calmaria.

 Andou bastante. A rua parecia infindável. Olhava no horizonte, mas só via chão a percorrer. Mesmo assim sentiu que deveria andar mais.

Continuou andando, devaneando. E devido aos seus devaneios, não percebeu quando a rua começava a chegar ao seu fim; que estava chegando ao seu destino, que, até então, era um mistério.

Ele para de súbito. Põe as mãos nos bolsos e franze a testa, deixando seus olhos semicerrados. O que era aquilo no final da rua?

Ele observa com cuidado o que poderia ser um terreno vazio, abandonado, mas muito bem cuidado.

Resolve olhar de perto.

Chegando lá fica surpreso ao ver um terreno enorme em plena cidade grande. A relva, verdíssima, cobria suavemente seus pés. Ao cruzar o perímetro que separava o terreno da rua, todo o barulho típico da cidade agitada cessou. Respirou fundo e percebeu que também o ar havia se modificado: estava puríssimo.

Olhou para trás e viu a avenida ao longe, agitada, com seus carros e pessoas apressadas. Voltou seu olhar para frente e viu que de onde ele se encontrava o céu estava claro como diamante, e que várias nuvens flutuavam suavemente por toda a sua extensão.

Começa a caminhar vagarosamente pelo terreno, olhando sempre em volta, não receoso, mas curioso.

O terreno era, de alguma maneira, surreal. A grama era estranhamente perfeita demais. E a cada passo que dava sentia um arrepio forte. Cada vez que avançava seu coração batia mais intensamente. Isso o deixava um pouco assustado, mas mesmo assim resolveu continuar.

Percebeu que estava próximo  do que julgava ser o centro do terreno. Chegando lá, encontrou algo que tirou seu fôlego. Algo que era muito significativo para ele; algo que se assemelhava com o que tinha dentro de si. Era uma das coisas mais belas que já vira.

No centro do terreno havia uma rosa. Mas não uma rosa qualquer. Era uma rosa, sabia ele, diferente de todas as outras. Aquela que se destacava entre todas.

Agachou-se para poder apreciá-la. Como era bela! Suas pétalas eram delicadas e vermelhas como sangue. Emanava um aroma viciante, doce, que só essa, em particular, tinha. E ele sabia disso sem nem precisar conhecer o aroma das outras rosas. Simplesmente sabia.

Após alguns instantes apreciando a rosa, ele resolveu fazer o que estava pensando: retirar a rosa dali.

Sabia que era ela que dava toda a beleza àquele lugar, mas sabia também que era por um motivo mais forte, mais importante. Sabia que não seria em vão, e que a levaria para um lugar onde a rosa estaria em contato com algo semelhante a ela mesma.

Pensou na dor que sentiria, mas não se importou. Aguentaria a dor de bom grado já que o propósito era válido. Portanto, descartou-a de seus pensamentos.

Concentrou-se na rosa. Deu um sorrisinho meio torto ao encará-la, como se pedisse desculpas antecipadamente pelo que faria a seguir. Respirou fundo e tocou o caule da rosa. Apesar dos espinhos, segurou firme e a arrancou do solo. Ao olhar para a palma de sua mão, viu o sinal de que o que fizera fora certo: não havia um único corte, nem sequer um arranhão. Encarou também a linda rosa em suas mãos e viu que essa se encontrava desprovida de seus espinhos. Talvez porque soubesse que de seu lindo terreno e das mãos de quem a arrancou, a rosa iria para as mãos de alguém delicada como ela.

Beijou a rosa, direcionou-a aos céus e deu uma piscada, sorrindo.

3

Começou a subir novamente a rua, agora a passos rápidos, pois tinha um compromisso. Olhou para trás uma única vez, e viu que o terreno continuava ali, mas já não tinha o mesmo brilho de antes; de quando tinha a rosa em seu solo. Como que para compensar, um feixe de luz desceu do céu e iluminou aquele pedaço da cidade. Foi algo que nunca presenciou, teve vontade de parar e observar, mas manteve seus passos rápidos.

Olhou para o relógio. Ainda eram 11:30, ainda tinha tempo. Mandou uma mensagem pelo celular.

Interessante pensar como aquele momento todo durou apenas cerca de 30 minutos. Em sua mente tudo aquilo durou horas.

Chegando novamente à avenida ele percebe que o céu está nublado e uma chuva fina banha a cidade. Caminha um pouco em direção ao seu destino. Abaixa os olhos para olhar a rosa, e quando olha para frente novamente o tempo parece ficar devagar, em câmera lenta, pois ele a vê, deslumbrante.

Esperando por ele está aquela que é a dona de seu coração. Sim, ela é divina, e parece emanar certa luz, a qual a destaca no meio das outras pessoas que passavam por ali. E como se o universo tivesse resolvido dar ênfase, uma brisa bate em seus cabelos, e estes voam e balançam no ar. Ao observá-la com maior carinho, ele encara aqueles que são a sua luz na escuridão da noite: seus olhos. Os olhos mais lindos que ele já viu. Os olhos claros que em momento algum do dia saem de sua mente. Ficam ali, fazendo-se presentes em cada pensamento, cada ação, cada suspiro, cada sensação.

Ao vê-lo, ela sorri, e ele retribui o sorriso. E como é bom ver aquele sorriso. Ah… aquele sorriso se destacando em sua face. Sinal de que ela realmente está ali. Sinal de que o momento pelo qual ele espera dia após dia está realmente acontecendo.

Ele entrega a rosa a ela, sorriso estampado no rosto.

Ao ver a rosa ela fica surpresa, feliz. Era o que ele queria. Tudo o que faz, faz com esse objetivo. Deixá-la feliz, alegre, são coisas que trazem sua própria felicidade.

No fundo ele sabia que estava entregando uma rosa para uma rosa ainda mais linda. Como foi confortante tê-la perto de si. Deram um beijo carinhoso, deram-se as mãos e puseram-se a caminhar. O toque suave de suas mãos o deixa em estado de graça. Por mais simples que seja, esse ato transmite uma ternura enorme. Em sua mente romântica, cada detalhe é registrado, pois ele sabe que o amor, o romance, a paixão, estão em gestos simples, mas que contêm o mais puro e poderoso sentimento.

Como relâmpago no céu uma certeza lhe ocorre: Ele sabe o que o faz querer levantar-se de manhã.

 

Autor: Rafael Mendes da Silva

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